DIRETOR GERAL DO ITER ADMITE ATRASO NA CONCLUSÃO DO PROJETO E APONTA OS ERROS QUE SERÃO CORRIGIDOS

O Diretor Geral do Reator Termonuclear Experimental Internacional (ITER), Pietro Barabaschi, falando na  29ª Conferência de Energia de Fusão da Agência Internacional de Energia Atômica ( AIEA)  descreveu o progresso alcançado e os problemas enfrentados pelo projeto multinacional à medida que o processo de elaboração de um cronograma revisado ocorre. Ele disse que um novo cronograma para o projeto multinacional, em Cadarache, no sul da França, seria apresentado ao conselho para aprovação em meados do próximo ano. A pandemia e o surgimento de problemas com a região da junta de soldagem do setor de vasos a vácuo e rachaduras induzidas por corrosão na tubulação de proteção térmica significaram que há uma certeza de que será necessário um atraso considerável no cronograma. Barabaschi disse que houve uma “mudança de cultura”, onde eles estavam conscientes dos problemas enfrentados, em vez de serem varridos “para debaixo do tapete” e, no geral, “estamos no bom caminho. Estamos agora no processo de preparação do nova linha de base, não serão boas notícias, mas iremos em frente e teremos sucesso. Tenho muita certeza disso”. Em sua atualização após seu primeiro ano na função, ele disse que houve muitos avanços, como a conclusão do sistema de alimentação e a grande instalação dos equipamentos para o sistema elétrico de energia pulsada, acrescentando que as obras civis no local foram agora 80% concluído.

Ele disse que todas as 19 bobinas de campo toroidal foram fabricadas e 17 já estão no local, sendo as duas últimas em transporte. Das seis bobinas de campo poloidal, a maior das quais tem 24 metros de diâmetro e pesa 400 toneladas, duas estão instaladas e mais uma já está no local, sendo que a última deverá estar concluída até ao final do ano. O sistema de água de resfriamento foi comissionado e o sistema está operacional, enquanto a instalação do equipamento da planta criogênica está concluída e entrou na fase de pré-comissionamento. “Tem havido desafios de 

componentes pioneiros, como o primeiro Módulo Setorial de Vaso de Vácuo completo que foi içado para o poço de tokamak em maio de 2022, mas mais tarde teve que ser removido após o setor-para -a soldagem de setores de vasos de vácuo foi reavaliada como sendo muito desafiadora para ser realizada no local, com base nas não conformidades geométricas previamente identificadas nas juntas de campo e vazamento também foi identificado na tubulação de resfriamento de blindagem térmica devido à corrosão sob tensão por cloreto. Foram adjudicados contratos de reparação para resolver estas “não conformidades”.

Outras questões a serem consideradas na elaboração do cronograma revisado do projetoforam:

• “Garantir o alinhamento com a ASN, o regulador francês da segurança nuclear, em parte através da implementação de uma abordagem gradual à demonstração de segurança” – ele não considerou razoável ou possível ter uma demonstração de segurança agora para mostrar ao regulador que o ITER seria seguro no final de sua vida
• Repensando a sequência de soldagem do vaso a vácuo
• “Cronograma realista para montagem e comissionamento. O anterior não era realista – é sempre agressivo o modo como planejamos, mas não deve ser surreal”
• Comece a testar algumas bobinas de campo toroidal e poloidal
• Mudança do material da Primeira Parede de berílio para tungstênio e “ajustes no escopo do Primeiro Plasma, seguidos por duas fases operacionais de DT”

Durante a sessão da conferência em Londres, Barabaschi também destacou questões relacionadas com a procura das competências e experiência certas para o projeto quando questionado sobre gestão do conhecimento.“Um dos maiores desafios que temos na fusão é que durante a construção do ITER muito conhecimento foi perdido – o conhecimento sobre o que é necessário para integrar uma instalação como o ITER, para projetá-la do zero, foi perdido Acho que precisamos reconstruir o conhecimento – o conhecimento está disponível em algum lugar, mas não está consolidado.” Os engenheiros não eram tão bons na consolidação de informações como os cientistas na fusão “porque os cientistas publicam muito mais do que os engenheiros“, disse ele, acrescentando que não consolidar informações era “um problema muito sério e temos que mudar a cultura.  É algo que que vamos fazer no ITER, com dificuldades, porque teremos de trazer novamente alguns reformados. Acreditem ou não”

Para lembrar, o ITER é um grande projeto internacional para construir um dispositivo de fusão tokamak projetado para provar a viabilidade da fusão como uma fonte de energia em grande escala e livre de carbono. O objetivo do ITER é funcionar a 500 MW (durante pelo menos 400 segundos continuamente) com 50 MW de potência de aquecimento de plasma.  Nenhuma eletricidade será gerada no ITER. Trinta e cinco nações estão a colaborar para construir o ITER – a União Europeia (mais a Suíça) contribui com quase metade do custo da sua construção, enquanto os outros seis membros (China, Índia, Japão, Coreia do Sul, Rússia e EUA) contribuem igualmente ao resto. A construção começou em 2010.